2007-05-07

A Obra de Arte como Terreno Fecundo - Discurso Aberto

Numa das últimas aulas procurou-se exemplificar o carácter Transgressor e Heterocósmico da obra de arte... Para o efeito foram facultadas aos alunos reproduções que pretendiam mostrar inequivocamente estas características.
Oa autores foram: Salvador Dali; Marcel Duchamp; Pierre e Gilles; Eduardo Luiz; Andy Warhol e a escola da Bauhaus.
Os alunos ficaram surpreendidos, agradados, desagradados, mas nunca indiferentes...
Aqui segue um texto para pensar essa experiência.
" O discurso aberto, que é típico da arte, e da arte de vanguarda, em particular, tem duas características. Acima de tudo é ambíguo: não tende a definir-nos a realidade de modo unívoco, definitivo,, já confeccionado. Como os formalistas na década de vinte, o discurso artístico coloca-nos numa condição de 'estranhamento'; apresenta-nos as coisas de um modo novo, para além dos hábitos conquistados, infringindo as normas da linguagem, às quaishavíamos sido habituados. As coisas de que nos fala aparecem-nos sob uma luz estranha, como se as víssemos agora pela primeira vez; precisamos de intervir com actos de escolha, construímos a realidade sob o impulso da mensagem estética, sem que esta nos obrigue a ver de um modo predeterminado. assim, a minha compreensão difere da sua, e o discurso aberto torna-se a possibilidade de discursos diversos, e para cada um de nós é uma contínua descoberta do mundo. A segunda característica do discurso aberto é que ele me reenvia antes de tudo não às coisas de que fala, mas ao modo pelo qual ele as diz. O discurso aberto tem como primeiro significado a própria estrutura. Assim, a mensagem não se consuma jamais, permanece sempre como fonte de informações possíveis e responde de modo diverso a diversos tipos de sensibilidade e cultura.
O discurso aberto é um apelo à responsabilidade, à escolha individual, um desafio e um estímulo para o gosto, para a imaginação, para a inteligência. Por isso a grande arte é sempre difícil e sempre imprevista, não quer agradar nem resolver problemas, mas sim renovar a nossa percepção e o nosso modo de compreender as coisas."
U. Eco, Obra Aberta