2008-11-04

Breve história da retórica

A arte de bem falar sempre foi valorizada por todos os povos, embora com objectivos e aplicações diversas.
Esta aparece nos contos e Narrativas Orais, nas Sagas e nos Mitos, nos Relatos e Escrituras Sagrados, nos Louvores aos feitos dos soberanos e até, embora de forma tão breve e concisa, nos Epitáfios Tumulares.
No entanto, damos aos gregos um papel determinante no desenvolvimento da argumentação e da retórica.
Isto deve-se, não tanto aos poemas homéricos e ao fascínio que sempre tiveram pela palavra - aqui estão na mesma plataforma que muitos outros povos, como já referimos - mas porque ao dar-se na Grécia a progressiva substituição do poder oligárquico e de cariz monárquico pela Democracia, a Argumentação e a Retórica surgem como algo fundamental no exercício da democracia, a saber: o debate, a disputa verbal, o apelo ao apoio e ao voto dos eleitores.
A vida da Pólis (da Cidade) - a Política - passa obrigatoriamente pela palavra e pelo seu manuseamento. Na Ágora, nas Assembleias, nos Tribunais, o domínio do bem dizer, torna-se fundamental para alcançar poder, relevância, projecção... para garantir a existência política (isto é : relevância na Cidade).
Claro que surgem não só alguns dotados na arte do bem falar, mas também aparecem os que desejando poder, necessitam aprender a dizer as coisas 'devidamente', 'convenientemente'... E entre uns e outros aparecem Profissionais da Palavra e do saber Enciclopédico - afinal não basta dizer bem , mas há que garantir um vasto domínio de assuntos onde se possa exercer esse dominio do linguarejar!
É nesta situação política e cultural que surgem os Sofistas, esses profissionais da arte de Bem Falar, de vastíssima cultura e famosos por saberem contorcer os sentidos das palavras, sem se preocuparem muito com a verdade, a sua busca, ou o devido aprofundamento dos conteúdos do discurso.
Os Sofistas desenvolveram a retórica em diversas vertentes: técnicas persuasivas, técnicas para vencer disputas...
Com Aristóteles, discípulo de Platão ( e se este último abominava a retórica sofística !!) a retórica ganha ainda uma maior dimensão e sistematização e passa a ser uma das grandes marcas da cultura Clássica.
Com o surgimento e expansão do Cristianismo, embora num momento inicial tenha havido alguma suspeita e mesmo recusa, a retórica é colocada ao serviço da propagação desta nova fé e surgiram muitas escolas retóricas de gregos, latinos, e outros, que convertidos, colocam ao serviço da nova religião o que tinham aprendido ou exercido no respeitante à arte de bem falar.
Com o cristianismo, a arte de bem falar vai, com o avançar do período medieval, ficando cada vez mais centrada nos conteúdos da fé, circunscrever-se aos espaços sagrados dos templos e dos mosteiros.
O Renascimento leva, como em tudo o resto, a uma re-descoberta da retórica clássica aplicada a conteúdos mais profanos. Embora com os movimentos da Reforma e da Contra - Reforma se assista a um incremento da retórica e a uma mistura de conteúdos sagrados e profanos (carácter religioso e político).
Os monarcas absolutos e a aristocracia (séculos XVII e XVIII) vão colocar a retórica ao seu serviço: os monarcas na fundamentação das suas pretensões e os aristocratas vão promover um 'falar distinto' e muitíssimo elaborado.
Com a expansão do Método Científico e a exigência de exactidão e demonstração, a retórica vai perdendo terreno ao longo do século XIX até que volta a ser 'ressuscitada' no século passado por importantes filósofos.