2008-12-15

Argumentação, Verdade e Ser

Os Sofistas não pareciam muito preocupados com a questão da Verdade.
Não fazia sentido, para eles, a procura de uma verdade absoluta e marcada pela estabilidade da eternidade.
A verdade era, na sofística, um ponto de vista, numa determinada circunstância. Por isso a verdade era sempre a ideia defendida pelo melhor a argumentar.
Para Platão este era precisamente o ponto fundamental onde os sofistas falhavam e traíam a Filosofia.
Para Platão a procura da Verdade era a tarefa central da Filosofia. A argumentação só podia estar ao serviço da verdade, apoiada num conhecimento verdadeiro, conhecimento este apoiado na verdadeira realidade (que para ele só poderia ser uma Realidade Imutável).
Os Sofistas desenvolveram a retórica como instrumento das discussões públicas na Pólis.
Como a verdade era circunstancial, e relativa, então o conteúdo do discurso caía em detrimento da Forma - a sedução, o peso excessivo do Pathos no discurso, a persuasão e até a manipulação podiam alargar o seu espaço de manobra.
Então a Democracia pode ela própria ser posta em perigo pois a força ditatorial/policial do Estado, ou do Tirano, pode ser substituída por uma força não menos potencialmente esmagadora que é a da manipulação, não respeitando o Bem, a Verdade, a Justiça enquanto valores objectivos...
Por outro lado se a verdade é sempre subjectiva, relativa, circunstancial, então a Filosofia não é possível: como se pode querer ser 'Amigo da Sabedoria' se esta fica reduzida ao exercício oco do cacarejar dum discurso que se satisfaz na Forma, mas é oco de conteúdo ?
Como é possível dedicar a vida ao 'Amor à Sabedoria' se esta é fugidia, fugaz, impermanente, subjectiva e manipulável ??!
Platão foi bem sensível a isto e por isso defendeu que o Discurso, a Argumentação, deviam estar ao serviço da procura da verdade: a forma devia servir e recuar para dar o lugar ao conteúdo, e seria essencial a distinção clara entre a Aparência e a Realidade.