2001: Odisseia no Espaço
2001: Odisseia no Espaço
1968 – EUA / UK
Filme estreado no dia 3 de Abril de 1968
Stanley Kubrick (1928 – 1999)
Há 37 anos, no coração dos revolucionários anos sessenta do século passado, o cinema viveu um dos seus mais gloriosos momentos. Pela mão de Stanley Kubrick (1928 – 1999) e com o patrocínio das artes dos dois mais influentes países do mundo anglo-saxónico, os Estados Unidos da América do Norte, cuja juventude se ia perdendo pelas florestas orientais, num acto de suspeitíssima eticidade, e o Reino Unido da Grã-Bretanha, a braços com a revolta dos seus jovens sedentos de paz e amor, em luta contra o sufoco da pardacenta moral de outras sombrias “florestas”, uma jóia do cinema é cuidadosamente burilada. Com tanto cuidado que lançou o seu brilho intenso até aos alvores do século seguinte, se não até à eternidade, como é apanágio das autênticas obras de arte.
Sobre este filme diria, recentemente, Francisco Ferreira, comentador especializado, ao serviço do jornal Expresso: “É ainda o maior de todos os filmes de ficção científica. Faça-se silêncio, portanto. Obra-prima absoluta”.
Em contraposição (Solaris de Tarkovski), em continuação, por referência, ou simplesmente de memória, esta “obra-prima”, expressa ou subliminarmente, tem estado presente no imaginário da filmografia de ficção científica destas quase quatro décadas de uma arte plena e vigorosa, ainda em crescendo, como é o caso do cinema.
Falo de ficção científica quando, provavelmente, deveria falar de outra coisa, inominável, mas mais do que ciência, mais do que religião, mais do que fantasia. Devo talvez falar de linguagem, de existência, de absoluto, de tudo e de nada acerca da mesma coisa, da circularidade plena da vida do espírito. Devo talvez falar de especulação e de vontade. Ou da vontade de especulação e da vontade de vontade. Da natureza da Grande Ficção, do universal Guião da Existência, do Tempo e da Luz. Devo talvez falar da incómoda angústia da insignificância e do significado arcano do amor pelo saber. Da Dúvida. Que palavra bem dita: a Dúvida!
Há 37 anos um vigoroso Kubrick, cheio de luz a inundar-lhe a fronte e lançando histericamente sombras significantes diluindo-as na película, instalou o sobressalto da dúvida megalítica, mesmo a propósito, na rotineira, mortiça e monstruosa cosmografia da História. E disse!... e o que não disse é ainda mais ruidoso neste filme.
Deve ser visto! Para que se possa falar desta jóia e apreciar em comum o seu brilho, o brilho eterno e fortificante da dúvida.
E. S. Bombarral, 18 de Janeiro de 2005
AB
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