Religião, Sentido e Símbolo
" Segundo os testemunhos da História, parece que o desejo da humanidade tem sido sempre estar em contacto com o seu espírito. Desde sempre e em todas as épocas, ela tentou ultrapassar as fronteiras dos sentidos e encontrar o divino.
Utilizando os símbolos de que dispunha, classificou os seus ideais tão adequadamente quanto podia, normalmente como deuses e deusas; e contudo com o conhecimento de que por detrás do símbolo permanecia o mistério da Realidade.
Por meio de representações como divindades supremas e outras menores, antepassados e espíritos, os homens conseguiram captar um sentido de alteridade e de transcendência em que podiam basear a sua vida e o ser. Os grandes mistérios do nascimento, da morte e do renascimento ganharam um sentido e um significado para além do humano, em virtude da imanência do divino que se sentia presente no universo físico. O objecto - a faia ou o mar cinzento - tal como aparecia na experiência sensorial vulgar, apontava para uma realidade que não se continha nessa experiência porque era ilimitada. O significado último a que conduza não era inteiramente alcançável pelos sentidos, mas cada objecto era como um dedo apontando o caminho para a realidade por trás da aparência. Todo o universo estava imbuído do sagrado e continha um aspecto que transcendia o finito e o tornava incomensurável. "
Anne Bancroft
As Origens do Sagrado
alteridade: o Outro; o Diferente; o Não Eu
transcendência: o que está para além; o que me ultrapassa
imanência: o Aqui; aquilo que me rodeia; o mundo sensitivo e material
experiência sensorial: a experiência quotidiana ligada aos sentidos
vulgar: comum; quotidiano, 'normal'
imbuído: pleno; cheio
incomensurável: que não se pode medir ou conter
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