2008-06-04

Os Contributos das Religiões

Os contributos que as estruturas humanas dão à própria humanidade não são nunca de menosprezar. O Absoluto - a absoluta perfeição (existirá ela ?) - parece ser um desejo muito humano, e diante das falhas estruturais e experienciais dos seres humanos e das suas construções, parece que muitas vezes nos fixamos mais nos contributos destrutivos que nas dádivas espantosas que as pessoas são capazes de erguer.
Como tantas outras coisas presentes na humanidade, também a Religião - ela mesma que procura o Absoluto - não o parece poder oferecer sem mediações que enformam deficiências e não- absolutidade ou não-perfeição...
No entanto, não podemos escamotear os seus contributos desde o primeiro amanhecer da humanidade... Olhar para as religiões, é olhar para nós! ...
Acima de tudo há que valorizarmos o que é nosso: Humano.
Crentes, Agnósticos ou Ateus, é sempre à volta do Homem que nos movemos, e não podemos nunca encarar uma qualquer posição relativamente às grandes questões fundamentais da humanidade, como sendo indignas ou tão insignificantes e obscuras/obscurantistas que não mereçam voltar para elas uma atenção intelectual inquiritiva e séria.
Há que regeitar, sim, a ignorância - que não conhece crença que não a si própria ... Ser crente ou descrente, praticante ou militante contra ou a favor da causa religiosa, importa sempre primeiro Conhecer. E conhecer é sempre olhar, demoradamente, como se de cada vez fosse a primeira, e por isso nos deixamos surpreender e encantar.
" Muito antes de haver ciência, ou até filosofia, havia religiões, serviram muitos propósitos e seria um erro de reducionismo considerar que, através dos tempos, as diferentes religiões produziram apenas grandes males ou grandes bens. Como todas as manifestações essenciais humanas, também as religiões produziram e estimularam o melhor e o pior da humanidade.
No entanto, é indiscutível que as grandes religiões universais inspiraram muita gente a viver existências que enriqueceram incomensuravelmente as maravilhas do nosso mundo e inspiraram muitas outras pessoas a viver uma vida que foi, dadas as circunstâncias , mais plena de sentido, menos dolorosa do que teria podido ser, de outro modo.
(...)
As religiões trouxeram o conforto, a solidariedade e a companhia a muitos que teriam, de outro modo, feito uma passagem solitária e abandonada por esta vida, sem glória nem ventura. Na sua mais valiosa dimensão, as religiões chamam a atenção para o amor e tornam-no real para muita gente que, de outro modo, não o veria, enobreceram atitudes, refrescaram espíritos num mundo violento e conturbado.
Uma coisa que as religiões não conseguiram, ainda que não fosse esta a sua razão de ser, foi terem mantido o Homo Sapiens civilizado o bastante, durante tempo suficiente, para que aprendêssemos a reflectir de forma sistemática e precisa na nossa posição face aos outros homens e face ao universo. "
C. Dennet