Do Terreno ao Celestial - realidade e símbolo
Como podemos ver no texto abaixo exposto de A. Bancroft, a humanidade sempre foi dada a pressentir uma Realidade Outra - ou por de trás ou para Além desta. Essa realidade seria mais permanente, mais verdadeira, mais real.
A busca do sentido do 'Aqui' conduziu, curiosamente, o Homem para o 'Além'. O Aqui tornou-se uma porta, um vislumbre, uma cópia ou uma pista da/para uma realidade outra.
A Água - elemento natural e corriqueiro - tornou-se símbolo de purificação e vivificação. O Homem sempre observou que ela é fonte de vida, que lava, mas também tem o poder para destruir e matar - é partindo desta experiência do quotidiano que a água aparece no vastíssimo número de religiões e crenças através de ritos propiciatórios e/ou purificatórios: lavagens, abluções, baptismos, imersões purificadoras.
O mesmo acontece com o fogo, por exemplo, e a Luz. As Trevas levam à perdição, ao engano, à desorientação... sem Luz a vida perece - por isto o fogo, o sol, a Luz são temas recorrentes nas religiões e nelas se fala tanto em 'iluminação'.
Tal como as montanhas e as árvores sagradas dos primórdios das culturas e crenças humanas, também os templos se elevam: partindo do terreno, do que é 'baixo', procuram, simbolicamente, alcançar o celeste, o cimo, o Transcendente.
É sintomático que os grandes eventos religiosos estão, de um modo ou de outro, ligados a ciclos ou fenómenos naturais - do Homem ou da Natureza: Nascimento/Reprodução/Primavera; Inverno/Adormecimento/Morte...
A Natureza foi pois transformada em janela e guia para o transcendente (veja-se algo tão comum e natural como os sonhos, ser, igualmente o modo comum de comunicar com o 'outro mundo').
O natural e sensível reenvia então, continuamente, para um Além, e mesmo neste mundo existem Espaços e Tempos privilegiados como portas de comunicação para o transcendente: aqueles tempos do calendário, os espaços geográficos ou arquitectónicos, os objectos e pessoas que tocados pelo transcendente por isso se tornam sagrados.
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