2009-01-28

A DÚVIDA METÓDICA cartesiana

A DÚVIDA é por demais fundamental em Descartes pois ela decorre de modo directo da Primeira Regra do Método: ‘nada aceitar por verdadeiro, a não ser o que for claro e distinto, indubitável’.

Tudo o que levantar a mínima suspeita, inconsistência, ou não oferecer absoluta certeza, deve ser afastado de imediato.

Descartes apenas não se propõe duvidar das questões e conteúdos da Fé, para ele estes estão num outro plano pois não dizem respeito ao conhecimento ‘natural’, humano, mas ao sobrenatural e Revelado.

Contudo, não é demais chamar a atenção de que a DÚVIDA cartesiana não é nunca um ponto de chegada – como no caso dos cépticos – ela é um MEIO, Método, na busca de princípios firmes e indubitáveis.


Quais são as razões para Descartes apontar a Dúvida como método para depurar o conhecimento de fracas/falsas ‘verdades’?

- Porque muitas vezes os nossos juízos são precipitados;

- Devido aos preconceitos (pré-conceitos) que deixámos instalar em nós;

- Porque os sentidos nos enganam, e muito do nosso conhecimento está sustentado neles;

- Porque não temos um critério seguro que nos permita distinguir o sono da vigília, e não podemos garantir se quando julgamos estar acordados, não estaremos de facto a dormir;

- Porque até em demonstrações matemáticas nos enganamos por vezes;

- Podemos ser iludidos e afastados da verdade até por qualquer ser maligno, como um ‘génio enganador’ que nos faça estar errados, quando afinal exercemos o pensamento procurando a certeza e a evidência.




Assim, pelo acima exposto, e enunciado por Descartes, a DÚVIDA possui as seguintes características:


. É Metódica – um método, um meio para alcançar conhecimento mais seguro;


. É Provisória - e não a afirmação céptica acerca da definitiva impossibilidade do conhecimento;

. É Hiperbólica – isto é, exagerada, extensa – abate-se sobre tudo o que não seja seguro;

. É Demolidora – nada deixa de pé, desde que não seja indubitavelmente seguro, à sua passagem;

. É Universal – incide sobre todo o conhecimento humano;

. É Radical – não se fica apenas pela superfície, mas dirige-se até aos fundamentos do conhecimento.

. É Catártica – purificadora, pois liberta o pensamento humano dos erros perturbadores do verdadeiro conhecimento.