2009-03-06

O Conhecimento, segundo KANT

O problema central de Kant que temos estudado, diz respeito à questão se o conhecimento é possível, e em que condições.

Descartes já desaparecera e Hume estava ainda presente, mas as discussões entre empiristas e racionalistas não pareciam ter fim à vista.

É neste contexto que surge Kant – aliás o próprio Kant afirmou que Hume o tinha despertado do ‘sono dogmático’, sinal que Kant seguia as discussões, tomava posição, e repensava as questões levantadas por ambos os campos.

Este ‘acordar’ do sono dogmático não quis dizer que se tinha posicionado no extremo oposto – o percurso iniciado por este acordar, não o levou até uma posição empirista, com consequências cépticas… O esforço intelectual de Kant vai no sentido de tentar conciliar as correntes filosóficas desavindas do empirismo e do racionalismo.

Com os empiristas Kant defende que sem experiência não pode existir conhecimento. Mas com os racionalistas concorda que a razão é determinante no processo do conhecimento.

No entanto desaprova a convicção dos empiristas de que a razão tem apenas um papel passivo (como por exemplo em Hume, em que as ideias não passam de impressões distantes e trabalhadas pela razão). E contesta aos racionalistas a afirmação peremptória de que o verdadeiro conhecimento só pode ser um conhecimento independente da experiência.


Hume afirmava a impossibilidade de conhecer para além dos sentidos – e por isso a impossibilidade de um conhecimento necessário e universal (como Descartes pretendia fundamentar e provar), mas Kant, pelo contrário, afirma a necessidade de um conhecimento universal, e por isso aposta em condições a priori que tal possibilitem.



A Proposta Kantiana:



Para Kant o conhecimento é possibilitado por condições a priori (independentes da experiência) e por condições a posteriori (decorrentes da experiência). O sujeito (aquele que conhece) é dotado de sensibilidade e de entendimento, que juntos concorrem para a possibilidade do conhecimento.

A Sensibilidade é, sobretudo, passiva, a sua principal característica é a receptividade, ou seja, ela deixa-se ‘tocar’ pelos objectos do mundo externo…Esta abertura ao exterior fornece ao sujeito as impressões sensíveis.

O Entendimento tem uma dimensão activa, e é capaz de Pensar as representações veiculadas pela sensibilidade.

Portanto, a Sensibilidade dá-nos intuições e o Entendimento conceitos.


“Embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, isso não significa que proceda todo da experiência”…




A sensibilidade fornece-nos as Impressões sensíveis, que são matéria a posteriori. Mas mesmo a sensibilidade - para poder exercer o seu papel de receptividade face ao mundo dos objectos externos – é dotada de Formas a priori : as intuições puras do Espaço e do Tempo.

Também o entendimento trabalha a matéria a posteriori das sensações, mas a partir dos Conceitos puros do Entendimento.

Ou seja, em Kant, nunca uma dimensão apenas está presente de modo exclusivo, no processo do conhecimento: mesmo a Experiência (tão cara ao empirismo) para ser entendida e efectiva, embora seja a posteriori, necessita da dimensão a priori (das intuições puras).

E é assim que o conhecimento que começa na experiência, pode ambicionar as características de um conhecimento dotado de necessidade e de universalidade (como tanto queriam os racionalistas).

A dimensão a posteriori, é sempre um domínio do subjectivo, do particular, mas a dimensão a priori do conhecimento pode garantir a universalidade, a possibilidade de um conhecimento efectivo.



Temos então de considerar segundo Kant, a existência de três tipos de Juízos:


- Os Juízos Analíticos: a priori

Necessariamente verdadeiros e lógicos;
São tautológicos e não oferecem conhecimento novo,
No fundo o predicado está já contido no sujeito.

- Os Juízos Sintéticos: a posteriori

O predicado é atribuído a sujeito, fruto da experiência;
Não possuem necessidade lógica nem universalidade;
A sua vaidade depene e circunstâncias de espaço e de tempo.

- Os Juízos Sintéticos A Priori: a priori

São necessariamente verdadeiros;
Não provêm da experiência;
São fruto de uma síntese mental.