2009-06-02

Era da COMUNICAÇÃO ou Era do ISOLAMENTO?







Comunicação, Tecnologias da Comunicação, Meios de Comunicação, Técnicas de Comunicação… O termo parece ter um efeito quase mágico para o Homem contemporâneo! Televisão; computador; telemóvel; ipod; câmaras de vídeo-vigilância… Aí estamos nós, parece, em constante acto de comunicação, em estado de alerta para comunicar, em disponibilidade e atitude de acolhimento comunicativo…
Será !???

A comunicação estará garantida à partida pelo suporte tecnológico?


O processo que vai desde os tambores, dos sinais de fumo ou da comunicação através de superfícies espelhadas até à Internet - que nos consegue levar até ao sítio mais afastado do planeta - evidenciam, precisamente, o aumento em grau, profundidade e qualidade do acto comunicativo entre os seres humanos ?


Teremos que, antes de mais, questionarmo-nos acerca do que significa comunicar… Comunicar será dizer algo… ou dizer-se? Quando comunicamos, verdadeiramente, comunicamos algo, ou comunicamos o que somos, transmitimo-nos aos outros?

Se comunicar for o acto do ser humano se dar a conhecer, naquilo que ele é e/ou anseia por ser, então as estruturas tecnológicas da comunicação não são garantia, por si mesmas, de verdadeira comunicação – elas não passam de suportes, de instrumentos. Como olhar para os nossos processos comunicativos (de) hoje?

Nomeadamente, se olharmos à nossa volta, podemos questionar a qualidade da comunicação que fazemos. Cada vez privilegiamos mais a comunicação indirecta, veja-se o caso dos telemóveis: em nome da rapidez e eficácia, a comunicação é feita sem recurso à presença física, e mesmo as gerações mais jovens prescindem já do acto comunicativo pela voz pois escolhem, cada vez mais, as mensagens escritas, em código sucinto e pouco dado à exposição de sentimentos profundos.

Por outro lado a maravilhosa Internet pode levar-nos a comunicar a distâncias inimagináveis, com gente com que, de outro modo, nunca entraríamos em diálogo, mas… será que as pessoas com quem comunicamos existem realmente, ou são produções virtuais que, de facto, não existem – e se assim for, existirá comunicação?!

O próprio entretenimento deixou de ser uma possibilidade de partilha colectiva: podemos ter várias pessoas, no mesmo espaço, a visionarem diferentes filmes e a ouvirem músicas diversas… como podem eles partir de um ponto comum para o diálogo e para o conhecimento mútuo?

Olhemos para o Jogo: cada vez mais é um assunto individual – eu e a minha máquina!


As próprias famílias podem estar a viver no mesmo espaço físico, mas em universos paralelos que jamais se encontram: é comum, cada vez mais, a anulação da refeição familiar que acaba por ser trocada pelo jantar diante do meu apetrecho tecnológico preferido, na intimidade do meu mundo tecnológico…

Deveremos pois questionarmo-nos se realmente comunicamos, ou se a nossa comunicação é mais ficcional do que real… Os instrumentos tecnológicos de comunicação são isso mesmo: meios, mas não garantem, por si só, a verdade e a profundidade do (muitíssimo humano) acto de comunicar.

2009-05-04

Glogalização, Capitalismo e Tecnociência

Conhecimento Científico ao serviço
da construção e manutenção da Sociedade Capitalista?



A partir dos anos 60 do século XX, a produção e acumulação de tipo capitalista entra em crise.

Fazendo face a esta crise assiste-se a uma re-organização e re-ordenamento em que, o Capital, para fazer face aos problemas detectados na engrenagem do Consumo de Massas, procurou, por um lado, expandir o sistema e, por outro, produzir bens inovadores para alcançar um Mercado mais alargado, se possível de nível mundial. No fundo procuravam-se ‘novos nichos de mercado’.

Deste novo ordenamento há quem veja, precisamente, o nascimento da tão afamada ‘GLOBALIZAÇÃO’ – que não passaria da tentativa, coroada de êxito relativo, do Capital mover-se livremente, levando à instauração de novos mercados.

Muitos críticos apontam o desenvolvimento científico-tecnológico como o grande aliado e suporte desta estratégia conquistadora e tentacular.

Podemos, de facto, atentar que a globalização diz, sobretudo, respeito à circulação de capitais e ao esbatimento das fronteiras – sempre no que diz respeito ao Consumo – mas o capital, o centro económico e decisório, é, contudo, cada vez mais centralizado em determinados países, perfeitamente identificados.

A primeira estratégia de globalização foi acompanhada pelo esforço de baixar os custos de produção, o que conduziu a mudanças radicais nas condições e exigências laborais, em vista a um aumento da Produtividade: ‘competitividade’; ‘optimização’; ‘reformismo’; ‘modernização’…

Seguiu-se depois a segunda estratégia que aposta, precisamente na ‘Inovação’ e nas ‘Tecnologias’. E é por isso que as Tecnologias da Comunicação são, hoje em dia, tão privilegiadas: o objectivo talvez não seja o interesse em que estejamos actualizados, ou permanecermos informados, mas o facto destas plataformas e gadgets tecnológicos possibilitarem e assegurarem estes processos de expansão e acumulação do/de Capital.

Poderemos, muito justamente, questionarmo-nos se a ‘necessidade’ e ‘urgência’ dos Novos Saberes e das Novas Competências não serão, afinal, novos espaços, estrategicamente esboçados, abertos à criação de novas necessidades e Novos Mercados.

Temos de nos interrogar, para além dos resultados colaterais do progresso/processo do desenvolvimento técnico-científico – a poluição; o aquecimento global; a extinção de diversas espécies; o alheamento do Homem em relação a si próprio – a quem é que, de facto, o Desenvolvimento Tecnológico realmente serve… A doença, a fome, a guerra, as dependências internas e externas, a incultura e a infelicidade estão, com o contributo da tecnologia, mais afastadas do grosso do género humano ou… acontece precisamente o contrário ?!

Muitas vezes quando falamos em Globalização, falamos de um movimento não recíproco entre nós, os ricos, e o resto do mundo… A tecnologia é nossa, para nós… e quando ela actua nos ‘outros’, ou é para a obtenção de matérias-primas e manufactura de bens apetecíveis e baratos, ou na criação de novos mercados de bens não essenciais, mas resultam, para nós em mais dividendos económicos. Será que a tecnologia – e os seus benefícios está mesmo globalizada?!
Quando falamos em ALDEIA GLOBAL, de que aldeia falamos… e quem é que lá, de facto habita?



2009-03-06

O Conhecimento, segundo KANT

O problema central de Kant que temos estudado, diz respeito à questão se o conhecimento é possível, e em que condições.

Descartes já desaparecera e Hume estava ainda presente, mas as discussões entre empiristas e racionalistas não pareciam ter fim à vista.

É neste contexto que surge Kant – aliás o próprio Kant afirmou que Hume o tinha despertado do ‘sono dogmático’, sinal que Kant seguia as discussões, tomava posição, e repensava as questões levantadas por ambos os campos.

Este ‘acordar’ do sono dogmático não quis dizer que se tinha posicionado no extremo oposto – o percurso iniciado por este acordar, não o levou até uma posição empirista, com consequências cépticas… O esforço intelectual de Kant vai no sentido de tentar conciliar as correntes filosóficas desavindas do empirismo e do racionalismo.

Com os empiristas Kant defende que sem experiência não pode existir conhecimento. Mas com os racionalistas concorda que a razão é determinante no processo do conhecimento.

No entanto desaprova a convicção dos empiristas de que a razão tem apenas um papel passivo (como por exemplo em Hume, em que as ideias não passam de impressões distantes e trabalhadas pela razão). E contesta aos racionalistas a afirmação peremptória de que o verdadeiro conhecimento só pode ser um conhecimento independente da experiência.


Hume afirmava a impossibilidade de conhecer para além dos sentidos – e por isso a impossibilidade de um conhecimento necessário e universal (como Descartes pretendia fundamentar e provar), mas Kant, pelo contrário, afirma a necessidade de um conhecimento universal, e por isso aposta em condições a priori que tal possibilitem.



A Proposta Kantiana:



Para Kant o conhecimento é possibilitado por condições a priori (independentes da experiência) e por condições a posteriori (decorrentes da experiência). O sujeito (aquele que conhece) é dotado de sensibilidade e de entendimento, que juntos concorrem para a possibilidade do conhecimento.

A Sensibilidade é, sobretudo, passiva, a sua principal característica é a receptividade, ou seja, ela deixa-se ‘tocar’ pelos objectos do mundo externo…Esta abertura ao exterior fornece ao sujeito as impressões sensíveis.

O Entendimento tem uma dimensão activa, e é capaz de Pensar as representações veiculadas pela sensibilidade.

Portanto, a Sensibilidade dá-nos intuições e o Entendimento conceitos.


“Embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, isso não significa que proceda todo da experiência”…




A sensibilidade fornece-nos as Impressões sensíveis, que são matéria a posteriori. Mas mesmo a sensibilidade - para poder exercer o seu papel de receptividade face ao mundo dos objectos externos – é dotada de Formas a priori : as intuições puras do Espaço e do Tempo.

Também o entendimento trabalha a matéria a posteriori das sensações, mas a partir dos Conceitos puros do Entendimento.

Ou seja, em Kant, nunca uma dimensão apenas está presente de modo exclusivo, no processo do conhecimento: mesmo a Experiência (tão cara ao empirismo) para ser entendida e efectiva, embora seja a posteriori, necessita da dimensão a priori (das intuições puras).

E é assim que o conhecimento que começa na experiência, pode ambicionar as características de um conhecimento dotado de necessidade e de universalidade (como tanto queriam os racionalistas).

A dimensão a posteriori, é sempre um domínio do subjectivo, do particular, mas a dimensão a priori do conhecimento pode garantir a universalidade, a possibilidade de um conhecimento efectivo.



Temos então de considerar segundo Kant, a existência de três tipos de Juízos:


- Os Juízos Analíticos: a priori

Necessariamente verdadeiros e lógicos;
São tautológicos e não oferecem conhecimento novo,
No fundo o predicado está já contido no sujeito.

- Os Juízos Sintéticos: a posteriori

O predicado é atribuído a sujeito, fruto da experiência;
Não possuem necessidade lógica nem universalidade;
A sua vaidade depene e circunstâncias de espaço e de tempo.

- Os Juízos Sintéticos A Priori: a priori

São necessariamente verdadeiros;
Não provêm da experiência;
São fruto de uma síntese mental.

2009-02-27

KANT: Sensibilidade e Entendimento

" É por meio da sensibilidade que os objectos nos são dados, apenas ela nos fornece intuições; mas é o entendimento que pensa esses objectos e é dele que nascem os conceitos. E é preciso que todo o pensamento, seja em linha directa seja por desvios, se refira a intuições (...) porque nenhum objecto nos pode ser dado de outra maneira.
Mas se todo o nosso conhecimento principia com a experiência, daí não resulta que proceda todo da experiência."
I. Kant

2009-02-06

'o que tenho de saber para o Teste...'

. Análise Fenomenológica do Conhecimento:

- Sujeito;
- Objecto;
- Correlação;
- O Conhecimento como Representação



. Definição de Conhecimento:

- O conhecimento como Crença Verdadeira Justificada



. Análise Comparativa de duas Teorias Explicativas do Conhecimento:

Descartes e Hume


- Características do Racionalismo

- Características do Empirismo

- Dogmatismo

- Cepticismo

- Oposição entre o racionalismo e o empirismo


Descartes:

- O Percurso Cartesiano (da Dúvida à Existência de Deus)

- Função do Método;

- As Regras do Método;

- A Dúvida Metódica;

- A Existência do Cogito;

- A Existência de Deus;

- Deus enquanto garante da verdade e do conhecimento


Hume:

- A Origem das Ideias;

- Percepções;

- Impressões e Ideias;

- O problema da ideia de Causalidade
(a causalidade tendo por fundamento a experiência e não ideias inatas);

- O Cepticismo de Hume

2009-02-03

O EMPIRISMO de David HUME

Tal como Descartes, David Hume também procedeu ao questionameno filosófico acerca da origem, possibilidade e limites do conhecimento humano.
No polo oposto de Descartes, Hume afirma que todo o conhecimento começa com a experiência, ou seja: nega a possibilidade de existência de ideias inatas.
Para este filósofo todo o conhecimento assenta em percepções; elas são o que dão conteúdo ao pensamento. Este conteúdo do conhecimento é, segundo ele, constituído então por percepções que se dividem em impressões e ideias.
As impressões são aquilo que surge no nosso espírito e está directamente ligado ao real exterior: são imagens, sentimentos, actos, que provêm de uma experiência recente, vivida, actual.
As ideias são representações, também, da realidade, mas já distantes da mesma, são marcas deixadas pelas impressões quando estas desapareceram. As ideias são cópias enfranquecidas das impressões originais.
Hume chama a atenção que quer as impressões quer as ideias possuem a mesma origem e natureza: o que as distingue é o grau de vivacidade, a 'distância' a que estão da realidade exterior.

2009-01-30

Um passeio pelo Percurso Cartesiano

Como vimos, Descartes elabora um método para a condução da Razão. O seu objectivo é conhecido: alcançar um conhecimento seguro, necessário e universal.


Para facilitar a compreensão do percurso cartesiano vamos traçar o seu itinerário que vai desde a Dúvida, radical e demolidora, passando pelo encontro com a primeira Evidência (a substância pensante, o cogito), o aparente fim de percurso – aparentemente sem saída - no solipsísmo (solidão absoluta e radical do Eu), e, por fim, a descoberta que a existência afinal é partilhada e antecedida ontologicamente por uma Existência outra.



Vamos apresentar uma série de anotações de percurso, como quando queremos orientar alguém em direcção a um determinado lugar, sem que se perca.

Deixando de lado um pouco do rigor filosófico, vamos oferecer, de modo muito simplificado, o itinerário seguido por Descartes (a primeira parte) para que se torne mais perceptível o caminho filosófico proposto, na sua obra ‘
Discurso do Método’:


1- A Razão está distribuída universalmente.

2- A Razão é: a capacidade de distinguir o verdadeiro do falso.

3- O Método começa por: nada aceitar sem ser sujeito primeiro à dúvida,
e só aceitar o que for claro e distinto, isto é, indubitável.

4- Duvidar da existência da realidade exterior;

5- Duvidar da existência do meu corpo;

6- Duvidar do meu próprio pensamento/raciocínio;

7- Duvidar da minha própria existência.



8- Mas duvidar é um acto de pensamento. E para pensar tenho de existir…
Então: se Penso, Logo Existo – Cogito Ergo Sum.

9- Duvidar é sinal de imperfeição.E dou-me conta de que a perfeição seria conhecer;

10- O ser pensante dá-se conta de que possui em si – nele, ser imperfeito – a ideia de perfeição.
Esta ideia não pode ter origem no cogito (sujeito pensante): o conteúdo (ideia de perfeição) transcende o continente (o ser imperfeito) – isso é racionalmente inaceitável;
Dito de outro modo: o efeito (ideia de perfeição), não pode ultrapassar a sua causa (ser imperfeito);

11-Se há uma ideia no sujeito pensante, que dele não provém, então existe Algo que é causa dessa ideia que em si o cogito encontra, mas que não originou;

12- Só um ser perfeito pode ser causa de tal ideia…
A esse ser perfeito aceitemos chamar-lhe ‘Deus’ – Deus existe.
E o Eu já não está só.