2006-02-22

Livros de Ética na biblioteca da ESB

«Não há nada pior do que aqueles que querem fazer o bem, em particular o bem para os outros. E o mesmo se aplica àqueles que «pensam o bem». Eles têm a irresistível tendência para pensar para e em lugar dos outros. Encapotados pelas suas certezas, a dúvida não os aflora. Desde logo, a vida, na sua complexidade, escapa-lhes. Em si a coisa tem pouca importância, a não ser que tendo-se erigido como detentores legítimos da palavra, esses provedores de lições decretem o que «deve ser» a sociedade ou o indivíduo.
Este magistério moral, pois é bem de moralismo que se trata, é perigoso. Com efeito, esquecendo o que o senso comum sabe de antiga memória, a saber, que «o inferno está cheio de boas intenções», esquecidos da roborativa lucidez de um Heraclito, «as opiniões humanas são brincadeira de criança», os moralistas de toda a espécie erguem como absolutos os valores culturais de um mundo cuja perenidade é tudo menos certa
Início prometedor da obra de Michel Maffesoli, Entre o Bem e o Mal. A obra está disponível (ainda!!) na nossa biblioteca sob a cota 13 / 105 - 4273. O que terá para dar quem tanto promete assim?
AB10

2006-02-15

OPINIÃO, CIÊNCIA e PROBLEMAS

" A ciência opõe-se à opinião - tanto no que diz respeito aos princípios como à sua necessidade de realização. (...). A opinião pensa mal; ela não pensa: traduz necessidades em conhecimentos. Quando designa os objectos pela sua utilidade, a opinião impede que os possamos conhecer. Nada se pode fundar sobre a opinião: é necessário primeiro destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a ultrapassar. Não bastará, por exemplo, rectificá-la em determinados pontos, mantendo, como uma espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório. O espírito científico impede-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular claramente. Antes de mais, é preciso saber pôr problemas. Na vida científica, diga-se o que se disser, os problemas não se põem por si mesmos. É precisamente esse sentido do problema que assinala o espírito científico. Para um espírito científico, todo o conhecimento é resposta a uma questão. Se não houve questão, não pode haver conhecimento científico."
Bachelard, A Formação do Espírito Científico

Textos de Ética na biblioteca da E.S.B.

«Camila, Manuel e os seus amigos regressavam a casa e caminhavam lentamente enquanto conversavam. Ao chegar à pequena praça com a fonte, pararam como sempre no quiosque para verem as novas revistas em que apareciam as suas estrelas de cinema favoritas. Repararam também com interesse no título de um jornal e que se lia: «Suicídio misterioso!». Mais abaixo, relatava-se que duas amigas se tinham suicidado, lançando-se juntas de uma ponte. Tinham deixado uma carta em que diziam que não se devia culpar ninguém pela sua morte e solicitavam que, caso ficassem em coma, não as mantivessem vivas artificialmente, mas que as deixassem morrer. A carta não fazia, no entanto, qualquer menção às razões da trágica decisão.
(…)
- Que horror! – exclamou Camila. – O que as terá levado a isto?
- Sim, é estranho! – concordou Inês. – Não percebo porque há gente que se suicida.
Não sei o que há por trás disto– respondeu Camila. – Talvez tivessem projectos que queriam realizar e, por não os poderem concretizar, pensaram que não valia a pena continuar a viver.
- Achas que se suicidaram por considerarem que a sua vida deixara de ter sentido? – perguntou Manuel.
…………………………………
…»


Obviamente este texto tem continuação e explora aspectos muito significativos no âmbito das reflexões éticas. É um texto do Livro de Manuel e Camila – Diálogos sobre Ética de Ernst Tugendhat (et altri). Há um exemplar à espera na Biblioteca da E.S.B.. A cota é 13/118 - 4939. Vale a pena!!

2006-02-14

Agostinho da Silva - Os Enigmas Fundamentais

" Eu acho que o enigma fundamental é a vida e que depois tudo o resto são apenas enigmas que fazem parte desse grande enigma. Que vida é que nós vivemos, por exemplo? Porque é que vivemos? Que trazemos para a vida? Viemos de outra vida ou não? Vamos para outra vida ou não? Esta vida é relâmpago no céu de vidas ou não? Ou é apenas a única e nunca mais se vive? Nunca se viveu para trás? E depois, na própria vida, cada acto dela é um enigma. Cada acto dela é sempre uma pergunta."
Diálogos com Agostinho da Silva

de Antónia de Sousa

AGOSTINHO da SILVA - CENTENÁRIO do NASCIMENTO

Personagem excêntrica, aspecto nada convencional para um intelectual - visto que a maior parte se apresenta como os executivos em fim de semana - Agostinho da Silva poderia ser confundido com um mendigo ou um idoso lisboeta a contas com a magra reforma, aquecendo-se ao sol gratuito da capital.

Pensador original, e até inclassificável, conseguia falar ( e pensava antes!) de tudo, não de um modo convencional, como quem apresenta pacotes de produtos alimentares devidamente acondicionados e com as etiquetagens esperadas, mas como alguém capaz de desembrulhar e cozinhar alimentos que não foram vendidos para se cozinharem e apresentarem agrupados no mesmo prato.

Se ainda tens a ideia que o Pensar se apresenta demasiado espartilhado numa Tradição que mais parece prisão da criatividade, podes dar uma vista de olhos na nossa Biblioteca - o volume " CONVERSAS COM AGOSTINHO DA SILVA" de Antónia de Sousa ( cota 13/67 2986 ) para te surpreenderes com a desfaçatez e os devaneios intelectuais de alguém que pode escandalizar... por pensar tanto.

C.R.

2006-02-08

O ESTATUTO do CONHECIMENTO CIENTÍFICO

" Por uma questão de rigor de precisão, o cientista deve exprimir-se com palavras claramente definíveis, destituídas de toda a ambiguidade. Dá às suas frases a construção impecável que assegura a transmissão óptima das informações. Um quasar chama-se '0975+51' . Este nome é ao mesmo tempo preciso e prático - dá a posição do astro em coordenadas celestes. Em contrapartida, é desprovido de qualquer conotação afectiva. Não faz sonhar... É o preço a pagar para obter indicações utilizáveis."
Hubert Reeves, Reflexões de um Observador da Natureza

DAVID HUME - A Importância dos Orgãos dos sentidos

(...) Eis pois que podemos dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. (...).
Pelo termo IMPRESSÃO entendo então todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, tocamos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. E as impressões distinguem-se das IDEIAS que são percepções menos vivas, das quais temos consciência quando reflectimos sobre uma das sensações (...). Em suma, TODOS OS MATERIAIS DO PENSAMENTO SÃO EXTRAIDOS DOS NOSSOS SENTIDOS, EXTERNOS OU INTERNOS; é somente a sua mistura e a sua composição que dependem do espírito e da vontade.
Ou para me exprimir em linguagem filosófica, TODAS AS NOSSAS IDEIAS OU PERCEPÇÕES MAIS FRACAS SÃO CÓPIAS DAS NOSSAS IMPRESSÕES, OU PERCEPÇÕES MAIS VIVAS (...).

DAVID HUME , Investigações sobre o Entendimento Humano

DAVID HUME

" (...) Se ocorre que o defeito de um orgão prive uma pessoa de uma classe de sensações, notamos que ela tem a mesma incapacidade para formar as ideias correspondentes. Assim,um cego não pode ter noção das cores, nem um surdo dos sons. Restaurai um sentido de que carecem: ao abrir as portas às sensações, possibilitamos igualmente a entrada das ideias (...) "
David HUME

2006-02-01

2º Período - 1º TESTE: CORRECÇÃO


I. Apreensão e integração da matéria (CONCEPTUALIZAÇÃO);
II. Justificação e fundamentação das afirmações (ARGUMENTAÇÃO);
III. Clareza, ordem e coerência da exposição (DISCURSIVIDADE);
IV. Posicionamento pessoal e avaliação crítica (ATITUDE);
V. Domínio de técnicas de análise textual (INTERPRETAÇÃO e HERMENÊUTICA).
CORRECÇÃO do TESTE SUMATIVO
REALIZADO no DIA 1 de FEVEREIRO 06:

( Esta correcção é sucinta: aponta as páginas do manual adoptado onde a matéria em examinação está expressa, apresenta resumidamente alguns dos mais importanteso tópicos das respostas correctas. Por isto, não se dispensa a correcção pessoal de cada aluno e consequente colocação de questões e problemas ao docente.)

I

1. pp. 171 à 175;

Sofística:

. empirismo; agnosticismo; cepticismo; antropocentrismo; relativismo; fenomenismo;

ensino pago; areté política; estudo do Homem; relação costumes vs. natureza;

cultura enciclopédica.

A RETÓRICA tinha como principal função a PERSUASÃO ( por vezes manipulação).

2. pp. 176 à 178

Para Sócrates e Platão, qualquer actividade humana pressupunha:

a) apoio em princípios racionais

b) ter por fim o Bem.

II

1. p.195, 196

. saber-fazer - conhecimento prático

. conhecimento imediato/directo

. conhecimento proposicional

2. p. 198

. s acredita em p

. p é verdadeiro

. s tem justificação para acreditar em p

3. p 198

O Infalibilismo é demasiado restritivo.

4. pp. 200 à 202

Teorias Internalistas: FUNDACIONALISMO e COERENTISMO

Teorias Externalistas: FIABILISMO.

III

1. p.207

Razão vs. Sentidos

Dogmatismo vs. Cepticismo.

IV

1. p.208

A Dúvida Cartesiana: Metódica; Hiperbólica; Catártica; Demolidora.

2. pp.211, 212

1. duvidar da própria existência;

2. duvidar é um acto de Pensamento;

3. o nada não pensa;

4. para pensar (duvidar), tenho que ser alguma coisa;

5. se PENSO, LOGO EXISTO - Primeira VERDADE CLARA e DISTINTA, Indubitável.

3. pp. 213 à 215

A Res Cogitans encontra em si impressa uma ideia de que não pode ser autora;

A Ideia de Perfeição que em mim encontro aponta para a existência de um SER PERFEITO;

DEUS aparece como GARANTE:

GNOSIOLÓGICO a) validade das evidências actuais

b) garantia das evidêncas passadas

ONTOLÓGICO a) do corpo

b) do mundo exterior ao Cogito