2006-12-13

Do Natural e do Convencional... - Algumas questões reflexivas pertinentes

" O que quer dizer que o homem é um 'animal convencional'? Significa o mesmo que dizer que é um 'animal simbólico'? Será incompatível que sejamos convencionais e que tenhamos 'natureza'? As palavras 'natural' e 'natureza' são usadas sempre com o mesmo sentido? Que queremos dizer quando falamos na 'natureza' das coisas? Todas as coisas que existem na realidade têm 'natureza' ou só algumas? A 'natureza' refere-se apenas ao que existe ou também ao que pode vir a existir? Em que outro sentido costuma empregar-se a palavra 'natureza'? Será 'natural' tudo o que existe sem que o homem intervenha ou só o que não é 'artificial'? Somos homens 'naturais', 'artificiais' ... ou metade metade?
Pode separar-se no homem o natural do cultural? Os termos 'natural' e 'natureza' são termos culturais... ou naturais? O hábito corresponde a uma segunda natureza? Porque deveria ser mais 'natural' o arrebatamento instintivo que o cálculo racional? Existem valores 'naturais'? O que é o 'bom' e o 'mau' de acordo com a natureza? A 'natureza' pode servir como ideal para julgar a realidade social humana? Temos obrigação de ser 'naturais'? O que é moralmente melhor: o 'natural' ou o 'artificial'?"


F. Savater


Os Valores - Naturais ou Convencionais ?

"Dizer que os costumes e as leis são convencionais, de resto, não corresponde a negar que se apoiem em condições naturais da vida humana, ou seja, em fundamentos que nada têm de convencional. Os animais têm mecanismos instintivos que os obrigam a fazer certas coisas e os impedem de fazer outras. Deste modo, a evolução biológica protege as espécies do perigo e garante a sua sobrevivência. Mas nós, seres humanos, temos instintos menos seguros ou, se preferires, mais flexíveis. Os bichos acertam quase sempre naquilo que fazem, mas não podem fazer mais do que um número limitado de coisas e têm pouca capacidade de mudar; pelo contrário, como homens, pelo nosso lado, nós enganamo-nos constantemente até nas matérias mais elementares, mas nunca deixamos também de inventar coisas novas... descobertas nunca vistas e também disparates nunca vistos. Porquê? Porque além dos instintos, somos dotados de capacidade racional, e graças a ela podemos fazer coisas muito melhores (e muito piores!) do que os animais. Tal é a razão de nos termos tornado animais tão esquisitos, tão pouco... animais. E o que vem a ser a razão? A capacidade de estabelecer convenções, ou seja, leis que não nos são impostas pela biologia, mas que voluntariamente aceitamos. Por meio da razão suplementamos e complementamos os nossos instintos. "


F. Savater

2006-12-11


O Homem é um ser em relação. Sempre. A questão que podemos agora lançar é a de que até onde estende ele o seu relacionamento - até onde vai o 'seu' mundo?

Um homem encerrado em si próprio parece, ou ser uma fuga, ou uma luta desigual contra um mundo que continuamente o invade e procura dialogar com ele.







" A vida do homem instintivo está circunscrita ao círculo dos seus interesses privados: a família e os amigos podem estar incluídos, mas o mundo exterior é ignorado, excepto quando pode ajudar ou dificultar o que está dentro do círculo dos desejos instintivos.

Numa vida como esta existe algo de febril e asfixiante que contrasta com a vida filosófica, que é calma e livre. O mundo pessoal dos interesses instintivos é um mundo pequeno, situado num mundo grande e poderoso que, mais tarde ou mais cedo, transformará o nosso mundo privado em ruínas.

A não ser que possamos alargar os nossos interesses de modo a que estes incluam todo o mundo exterior, nunca deixaremos de ser como uma guarnição num forte cercado, sabendo que o inimigo impede a fuga e que umaq rendição última é inevitável. Numa vida destas não existe paz, mas uma luta constante entre a insistência do desejo e a impotência da vontade".


B. Russell