2007-11-28

DIVERSIDADE de CULTURAS

O mundo deixou de ser uma casa grande, mas de divisões fechadas e com pouca comunicação entre si. As portas entre as diferentes salas estão praticamente escancaradas e os seus habitantes passam de uma para outra... Novidades atravessam as diferentes salas e chegam depressa ao outro lado da casa... É assim o nosso mundo: tornou-se mais pequeno, mais comunicante, com menos fronteiras estanques.
Sempre houve migrações no nosso planeta - sim. Mas agora elas fazem-se muito rapidamente e a comunicação é mais do que rápida. As trocas fazem-se a diversos níveis , diferentes profundidades e intensidades. Nem sempre felizes, é certo, ainda nos matamos porque não nos entendemos, porque a diferença é ainda vista como uma ameaça e potencia equívocos vários.
O prédio de uma grande cidade pode ser habitado pelo mundo: cada família é proveniente de diversos espaços culturais muito distantes uns dos outros - e esta distância efectua-se a vários níveis: psicológico, alimentar, crenças, hábitos, roupas e aspecto... E mesmo as nossas aldeias não escapam já ao fenómeno. Se acaso não existisse uma família de 'estrangeiros' a televisão e a 'net' encarregam-se de trazer o mundo distante até casa.
É aqui que entra a questão da DIVERSIDADE CULTURAL e do DIÁLOGO entre CULTURAS: a questão que se coloca não é apenas a da convivência mais prática, mas como viver, optar, proteger ou combater os nossos valores mais tradicionais e os estranhos entretanto chegados.
A problemática não é de fácil resolução,nem até de avaliação. A tentação do facilitismo de tudo equiparar, ou de tudo querer abarcar e operar um sincretismo de valores, pode trazer perigos e injustiças: deveremos aceitar, na Europa, o hábito cultural da excisão de raparigas? teremos que proibir nas escolas e nas empresas os festejos e decorações de Natal porque estes podem ser ofensivos para os outros que não se inserem nem são originários de países de maioria cristã? a um trabalhador não deve ser permitido usar um símbolo religioso num qualquer local de atendimento ao público (pode ofender os crentes de outras fés e os descrentes)?...
Muitas outras questões podem ser colocadas, mas a grande verdade é que temos mesmo de viver juntos e o 'separatismo' rácico e cultural - descontando até aspectos éticos - não tem futuro pois é irrealista. Mas o problema central persiste - como entrar em diálogo na diversidade (mas será possível um diálogo na mesmidade?!!)?
Seguem-se discussões e pensamentos a voar pela sala nas próximas aulas!

2007-11-21

OS VALORES

O nosso olhar contínuo sobre as coisas é sempre um olhar valorativo. Queiramos ou não estamos sempre a avaliar, a 'pesar', o que nos rodeia. Isto é Belo, aquilo é Bom, além há algo Precioso, desejamos Saúde, queremos ser Felizes...
Quer isto dizer que não nos limitamos a inserirmo-nos no fluir do acontecer, mas que avaliamos, damos peso e sentido às coisas, aos acontecimentos, aos actos, aos desejos, aos pensaments, às ocorrências.
Quando fazes compras, como determinas o valor do produto? Ou pegas logo na etiqueta com o preço, ou então socorres-te de alguma tabela prescrita, ou estabeleces relações avaliativas com produtos comparáveis de algum modo.
Mas as tabelas ou etiquetas explícitas para avaliação existencial, não são assim tão evidentes!!...
Mas as tabelas podem existir! Melhor: existem - várias! E tu também as possuis.
Os seres humanos ,desde, logo foram capazes de criar e atribuir, reconhecer e encontrar, valores ao que os cerca. VALORES, é mesmo disto que estamos a falar.
O Valor é um atributo que alguém ou uma comunidade reconhece como desejável e pode ser atribuido a condutas, seres, acontecimentos, estados de alma, objectos...
Quanto aos valores, devemos questionar a sua Origem, reconhecer como características a sua Polaridade, Hierarquia, Multiplicidade, Subjectividade ou Objectividade, carácter Absoluto ou Transitório.
Os valores são POLARES - isto é, apresentam-se com o seu oposto: bem/mal; saúde/doença; riqueza/pobreza...
Os valores são HIERARQUIZÁVEIS - não são todos equivalentes, não se apresentam ao ser humano todos no mesmo plano, isto é, existem escalas de valores, uns apresentam-se mais importantes e determinantes que outros;
Os valores são MÚLTIPLOS, são de vária ordem, diversa qualidade e diferentente aplicação e características;
Os valores podem ser vistos como SUBJECTIVOS ou como OBJECTIVOS:
se entendermos os valores como subjectivos, isso significa que os valores dependem do entendimento e atribuição exclusiva do sujeito; objectivos serão os valores se defendermos que estes não dependem de atribuições do sujeito, mas existem independentes deste, possuem consistência existencial própria;
Serão ABSOLUTOS os valores, se pensarmos que são imutáveis, para lá das circunstâncias e vicissitudes da História; TRANSITÓRIOS se sujeitos ao tempo, ao lugar, ao sujeito, às circunstâncias.
" Enquanto ideal,o valor implica, portanto, a ideia de uma qualidade de ser ou de agir superior, a que se aspira ou em que nos inspiramos. A este título, todavia, o valor não é menos real que as condutas ou os objectos em que se concretiza ou por que se exprime. O universo dos ideais é uma realidade para as pessoas que a ele aderem(...) "
G. Rocher

2007-11-14

CONDUTA e ACÇÃO

" Tudo quanto fazemos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que fazemos constitui uma acção.
Enquanto dormimos fazemos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas na cama, apertamos a cabeça contra a almofada,sonhamos, podemos ressonar ou falar em voz alta ou andar sonâmbulos pela casa. Fazemos tudo isso, mas não nos damos conta, não temos consciência do que fazemos. Isso que realizamos inconscientemente não se lhes chamará acções. Vamos reservar acção para as coisas que fazemos conscientemente, isto é, das quais nos damos conta que fazemos.
Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que a sua realização corresponda a uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos tiques e de muitos dos nossos actos reflexos,mas estes são realizados involuntariamente, constatamo-los como espetadores, não os efectuamos como agentes da acção.
(...)
Só chamaremos acções às realizações humanas conscientes e voluntárias (intencionais)."
J. Mosterin

2007-11-07

ACÇÃO

Tudo o que acontece será 'acção'?
Uma rocha que rola de uma ravina, uma águia que se eleva nos ares pelas suas asas... serão acções?...
Só os seres humanos serão capazes de agir? E tudo o que fazem, é 'acção'?
" Uma acção será uma interferência, consciente e voluntária de um ser humano ( o agente), no decurso normal das coisas, o qual, sem a sua interferência, teria seguido um caminho diferente. Uma acção consiste, pois, num acontecimento que ocorre graças à interferência intencional de um agente, que tem como motivo para a sua acção conseguir que determinado acontecimento se realize."
J. Mosterín