Uma Noite no Teatro
TEATRO DA CORNUCÓPIA
Vamos levar à cena um texto de Brecht que no início do século XX marcou uma verdadeira revolução na escrita dramática: UM HOMEM É UM HOMEM.
É com esta comédia que Brecht, em 1926, começa a formular a sua ideia de um novo teatro épico. Trata-se de uma parábola política que tem como subtítulo: A transformação do estivador Galy Gay no acampamento militar de Kilkoa no ano de 1925.
A acção situa-se numa Índia colonial de fantasia. Três soldados do exército britânico, aterrorizados pelo seu sargento, vêem-se obrigados a substituir um dos homens da sua secção de metralhadora que, na sequência de um assalto a um pagode, ficou com uma pelada na cabeça e que, portanto, não pode apresentar-se à chamada no quartel. É o estivador Galy Gay, que tinha ido ao mercado comprar um peixe, quem, depois de uma série de ameaças e chantagens, irá substituir o quarto homem. Para sobreviver, Galy Gay muda de nome e transforma-se em soldado. A peça analisa a sua perda de identidade integrando-se no colectivo do exército. Mas a transformação vai tão longe que Galy Gay se torna em chefe militar, verdadeira máquina de guerra capaz de chefiar batalhas e massacres. E outras transformações acontecem: o sargento, que não é capaz de sacrificar os seus instintos sexuais, é humilhado e passa a civil. O soldado com a pelada, que perdeu o seu lugar na tropa, depois de ser usado como falso deus, acaba por ficar com o nome inútil do estivador Galy Gay. Para além das referências ao militarismo e à guerra, é a relação de cada homem e dos homens todos com o devir da história e as transformações do mundo que acaba por estar em jogo. Tudo em tom de farsa trágica que uma cantineira vai semeando de ironia e pontuada por poemas e canções.
Para um público contemporâneo, toda a desmontagem que, de forma extremamente divertida, a peça faz da problemática da integração do indivíduo no colectivo, da identidade individual perante a massificação da alienação das encobertas relações de força que estruturam a sociedade capitalista e perpetuam o domínio do homem pelo homem, têm enorme pertinência. E, de um ponto de vista da formação do espectador de teatro, numa época em que cada vez mais o mercado do espectáculo o manipula e adormece, a peça é exemplar na formulação de uma forma dramática "épica" por oposição à anterior "forma dramática" e no seu desejo de criação de um novo estatuto para o público: o de ser pensante, distanciado da acção apresentada no palco, livre, responsável, capaz de usar o seu sentido crítico que o levará, fora do teatro, a tomar decisões.
O desafio aqui fica.
Texto retirado da carta de divulgação da Companhia
Vamos levar à cena um texto de Brecht que no início do século XX marcou uma verdadeira revolução na escrita dramática: UM HOMEM É UM HOMEM.
É com esta comédia que Brecht, em 1926, começa a formular a sua ideia de um novo teatro épico. Trata-se de uma parábola política que tem como subtítulo: A transformação do estivador Galy Gay no acampamento militar de Kilkoa no ano de 1925.
A acção situa-se numa Índia colonial de fantasia. Três soldados do exército britânico, aterrorizados pelo seu sargento, vêem-se obrigados a substituir um dos homens da sua secção de metralhadora que, na sequência de um assalto a um pagode, ficou com uma pelada na cabeça e que, portanto, não pode apresentar-se à chamada no quartel. É o estivador Galy Gay, que tinha ido ao mercado comprar um peixe, quem, depois de uma série de ameaças e chantagens, irá substituir o quarto homem. Para sobreviver, Galy Gay muda de nome e transforma-se em soldado. A peça analisa a sua perda de identidade integrando-se no colectivo do exército. Mas a transformação vai tão longe que Galy Gay se torna em chefe militar, verdadeira máquina de guerra capaz de chefiar batalhas e massacres. E outras transformações acontecem: o sargento, que não é capaz de sacrificar os seus instintos sexuais, é humilhado e passa a civil. O soldado com a pelada, que perdeu o seu lugar na tropa, depois de ser usado como falso deus, acaba por ficar com o nome inútil do estivador Galy Gay. Para além das referências ao militarismo e à guerra, é a relação de cada homem e dos homens todos com o devir da história e as transformações do mundo que acaba por estar em jogo. Tudo em tom de farsa trágica que uma cantineira vai semeando de ironia e pontuada por poemas e canções.
Para um público contemporâneo, toda a desmontagem que, de forma extremamente divertida, a peça faz da problemática da integração do indivíduo no colectivo, da identidade individual perante a massificação da alienação das encobertas relações de força que estruturam a sociedade capitalista e perpetuam o domínio do homem pelo homem, têm enorme pertinência. E, de um ponto de vista da formação do espectador de teatro, numa época em que cada vez mais o mercado do espectáculo o manipula e adormece, a peça é exemplar na formulação de uma forma dramática "épica" por oposição à anterior "forma dramática" e no seu desejo de criação de um novo estatuto para o público: o de ser pensante, distanciado da acção apresentada no palco, livre, responsável, capaz de usar o seu sentido crítico que o levará, fora do teatro, a tomar decisões.
O desafio aqui fica.
Texto retirado da carta de divulgação da Companhia
…E nós lá estaremos no dia 22 de Abril!
AB e JC