2005-03-15


Artificial Intelligence: AI
(Inteligência Artificial)

16 Março 2005

USA, 2001
Género: Ficção-Cientifica / Aventura/ Drama

Realizador: Steven Spielberg
Elenco: Haley Joel Osment, Frances O’Connor, Sam Robards, Jake Thomas, Jude Law, William Hurt, Ken Leung, April Grace

Enredo: No futuro, a raça humana continua a evoluir, tornando-se capaz de criar robots reais (denominados “mechas”) para os servir. Uma das companhias que produz robots desenvolve David, uma criança artificial, que é a primeira a ter sentimentos reais e que sente um amor interminável pela sua “mãe”, Monica. Monica adoptou-o como substituto para o seu filho real, que permanece em “crioestasia” com uma doença incurável. Eles vivem felizes mas quando o seu filho verdadeiro regressa a casa, após ter sido descoberta uma cura, a vida de David muda dramaticamente. Agora, este rapaz-robot altamente avançado, espera tornar-se num rapaz real para conquistar de volta o afecto da mãe humana que o abandonou.

P.C.

2005-03-08

Exercício 4 - Textos "Kant"

VI – Immanuel Kant
«A capacidade de receber representações (receptividade), graças à maneira como somos afectados, denomina-se sensibilidade. Por intermédio, pois, da sensibilidade são-nos dados objectos e só ela nos fornece intuições; mas é o entendimento que pensa esses objectos e é dele que provêm os conceitos. Contudo, o pensamento tem sempre de referir-se, finalmente, a intuições, quer directamente quer por rodeios e, por conseguinte, no que respeita a nós, por via da sensibilidade, porque de outro modo nenhum objecto nos pode ser dado. (…)
Se chamarmos sensibilidade à receptividade do nosso espírito em receber representações, na medida em que de algum modo é afectado, o entendimento é, em contrapartida, a capacidade de produzir representações ou a espontaneidade do conhecimento. Pelas condições da nossa natureza, a intuição nunca pode ser senão sensível, isto é, contém apenas a maneira pela qual somos afectados pelos objectos, ao passo que o entendimento é a capacidade de pensar o objecto da intuição sensível. Nenhuma destas qualidades tem primazia sobre a outra. Sem a sensibilidade, nenhum objecto nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas. Pelo que é tão necessário tornar sensíveis os conceitos (isto é, acrescentar-lhes o objecto na intuição) como tornar compreensíveis as intuições (isto é, submetê-las aos conceitos). Estas duas capacidades ou faculdades não podem permutar as suas funções. O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada podem pensar. Só pela reunião se obtém o conhecimento.»
I: Kant; Crítica da Razão Pura

VII – Immanuel Kant
«Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência, que outra coisa poderia despertar e pôr em acção a nossa capacidade de conhecer senão os objectos que afectam os sentidos e que, por um lado, originam por si mesmos as representações e, por outro lado, põem em movimento a nossa faculdade intelectual e levam-na a compará-las, ligá-las ou separá-las, transformando assim a matéria bruta das impressões sensíveis num conhecimento que se denomina experiência? Assim, na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência e é com esta que todo o conhecimento tem o seu início.
Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo ele derive da experiência.»
I: Kant; Crítica da Razão Pura


Exercício 4 - Textos "Locke" e "Hume"

III – John Locke
«A grandeza específica, o número, a figura e o movimento das partes do fogo ou da neve estão realmente neles, quer os sentidos de alguém os percebam ou não; e podem consequentemente ser chamadas qualidades reais, porque elas realmente existem naqueles corpos. Mas a luz, o calor, a brancura, ou a frialdade, não são mais reais neles do que a doença ou a dor são no maná. Se afastarmos delas as sensações, não deixarmos os olhos ver a luz ou as cores, nem os ouvidos ouvir os sons, não deixar o paladar provar, nem o nariz cheirar, e tudo, cores, gritos, odores, e sons, como são ideias, desaparecem e cessam e são reduzidas à sua causa; isto é, grandeza, figura e movimento das partes.»

IV – John Locke
«Admitamos pois que, na origem, a alma é como que uma tábua rasa, sem quaisquer caracteres, vazia de ideia alguma: como adquire as ideias? Por que meio recebe essa imensa quantidade que a imaginação do homem, sempre activa e ilimitada, lhe apresenta com uma variedade quase infinita? Onde vai ela buscar todos esses materiais que fundamentam os seus raciocínios e os seus conhecimentos? Respondo com uma palavra: à experiência. É essa a base de todos os nossos conhecimentos e é nela que assenta a sua origem. As observações que fazemos no que se refere a objectos exteriores e sensíveis ou as que dizem respeito às operações interiores da nossa alma, que nós apercebemos e sob as quais reflectimos, dão ao espírito os materiais dos seus pensamentos. São essas as duas fontes em que se baseiam todas as ideias que, de um ponto de vista natural, possuímos ou podemos vir a possuir.
E, primeiramente, sendo os sentidos excitados por certos objectos exteriores, fazem entrar na alma várias percepções distintas das coisas, segundo as diversas maneiras porque estes objectos agem sobre os nossos sentidos. É assim que adquirimos as ideias que temos do branco, do amarelo, do quente, do frio, do duro, do mole, do doce e do amargo, e de tudo o que denominamos qualidades sensíveis. Direi que os nossos sentidos fazem entrar todas estas ideias na nossa alma, pelo que me parece que eles fazem entrar objectos exteriores na alma, o que produz nela estas espécies de percepções. E como esta grande fonte da maior parte das ideias que nós temos depende inteiramente dos sentidos e por meio deles se comunica ao entendimento, chamo-a sensação.
A outra fonte de que o entendimento vem a receber ideias é a percepção das operações da nossa alma sobre as ideias que recebeu pelos sentidos: operações que, tornando-se o objecto das reflexões da alma, produzem no entendimento uma outra espécie de ideias, que os objectos exteriores não poderiam ter-lhe fornecido: tais são as ideias do que chamamos aperceber, pensar, duvidar, crer, raciocinar, conhecer, querer e todas as diferentes acções da alma, de cuja existência estamos plenamente convencidos porque as encontramos em nós mesmos e por intermédio das quais recebemos ideias tão distintas como as que os corpos produzem em nós quando vêm excitar os nossos sentidos. Eis uma fonte de ideias que cada homem tem sempre em si mesmo; e embora esta faculdade não seja um sentido, porque nada tem a ver com os objectos exteriores, aproxima-se bastante dele, e o nome de sentido interior não lhe ficaria mal. Mas como chamo à outra fonte das nossas ideias sensação, chamarei a esta reflexão, porque por seu intermédio a alma não recebe senão as ideias que adquire reflectindo sobre as suas próprias acções.
John Locke, Investigação sobre o Entendimento Humano.

V – David Hume
«Suponham que um homem, se bem que dotado das mais poderosas faculdades da razão e da reflexão, é subitamente transportado para este mundo. Certamente notaria de imediato, uma constante sucessão de objectos, um acontecimento seguindo-se a outro; mas, seria incapaz de se aperceber de algo diferente. Em primeiro lugar, seria incapaz de chegar à ideia de causa e de efeito através de qualquer raciocínio, porque as capacidades específicas que realizam todas as operações naturais nunca são evidentes aos sentidos; e não é legítimo concluir, somente porque um acontecimento precede um outro numa única ocasião, que um é a causa e o outro é o efeito. A sua ligação pode ser arbitrária e acidental. Não há razão para inferir a existência de um a partir do aparecimento do outro. Em resumo: um homem como esse, sem outra experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios acerca de qualquer questão de facto; não estaria seguro de nada, excepto do que está imediatamente presente à sua memória e aos seus sentidos.
Suponham ainda que esse homem adquiriu mais experiência e viveu tempo suficiente no mundo para ter observado a ligação constante entre objectos e acontecimentos habituais, o que resulta dessa experiência? Ele infere imediatamente a existência de um dos objectos do aparecimento do outro. Todavia, não adquiriu, através de toda a sua experiência qualquer ideia, qualquer conhecimento do poder secreto pelo qual um dos objectos produz o outro, e não é através de qualquer exercício da razão que ele é levado a tirar esta conclusão. Mas é sempre levado a tirá-la; e, mesmo que se convencesse que o seu entendimento não tem qualquer papel na operação, prosseguiria, no entanto, no mesmo fluxo de pensamento. (…)
Nenhuma impressão trazida pelos sentidos pode originar a ideia de necessidade. Não há outra impressão relacionada com o facto que presentemente nos ocupa, excepto a tendência (…) de passar de um objecto à ideia de um outro objecto que habitualmente lhe está associado. Essa é, portanto, a essência da necessidade. Em resumo: a necessidade é algo que existe no espírito, não nos objectos. É-nos impossível conceber acerca disso uma ideia, (…) se a considerarmos como uma qualidade dos corpos. (…) A simples visão de dois objectos ou de duas acções, mesmo se ligados, nunca nos pode dar a ideia de um poder ou de uma ligação entre eles; que essa ideia provém da repetição da sua união; que a repetição nada revela ou produz nos objectos, mas que apenas actua sobre o espírito, por meio da transição habitual que provoca; que essa transição habitual é, então, idêntica ao poder e à necessidade que, consequentemente, são qualidades das percepções e não dos objectos, sendo interiormente sentidas pela alma e não percepcionadas nos corpos externos.»
David Hume; Investigação acerca do Entendimento Humano.

Exercício 4 - Textos "Descartes"


I – René Descartes

«Agora fecharei os olhos, taparei os ouvidos, porei de parte todos os sentidos, apagarei também do meu pensamento todas as coisas corpóreas, ou pelo menos, porque isto é quase impossível, não as tomarei em conta, por inanes e falsas, e, dialogando só comigo próprio e inspeccionando-me mais intimamente, procurarei tornar-me o meu próprio eu progressivamente mais conhecido e familiar. Eu sou uma coisa que pensa, quer dizer, que duvida, que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que quer, que não quer, que também imagina, e que sente. Porque como atrás notei, embora as coisas que sinto ou que imagino não sejam possivelmente nada fora de mim, todavia aqueles modos de pensar que chamo sensações e imaginações existem em mim, de facto, enquanto são certos modos de pensar.
E com estas poucas palavras, enumerei tudo o que verdadeiramente sei, ou pelo menos, tudo aquilo que até agora notei que sabia. Neste momento vou considerar com mais exactidão se em mim há outros conhecimentos que não tomei em conta até agora. Estou certo de que sou uma coisa que pensa. Mas sei o que se requer para que eu tenha a certeza de alguma coisa? (…) Parece-me que já posso estatuir como regra geral que é absolutamente verdadeiro tudo aquilo que compreendo clara e distintamente.
Todavia admiti anteriormente como absolutamente certas e manifestas muitas coisas que, entretanto, depreendi depois serem duvidosas. Que coisas foram estas? A Terra, o Céu, os Astros, e todas as outras que recebi pelos sentidos. (…) E ainda agora não contesto que essas ideias estão de facto em mim. Mas outra coisa era o que eu então afirmava que compreendia claramente, pelo hábito de crer, embora na verdade não compreendesse: que havia certas coisas fora de mim, de que procediam estas ideias e às quais eram totalmente semelhantes. E era nisto que eu me enganava. (…) O erro principal e mais frequente que se pode descobrir nos juízos consiste em que afirmo que as ideias que estão em mim são semelhantes ou conformes a certas coisas que estão fora de mim. Se considerasse as próprias ideias como certos modos do meu pensamento e nãos as referisse a qualquer outra coisa, dificilmente me poderiam oferecer matéria de erro.
Porém, destas ideias parece-me que umas são inatas, outras adventícias, outras feitas por mim próprio. Porque que eu compreenda o que é «coisa», o que é «verdade», o que é «pensamento», parece-me que reside na minha própria natureza e que o não recebo de outra parte. Mas que eu ouça agora um ruído, que veja o Sol, que sinta o calor das chamas, isto, segundo julguei até agora, procede de certas coisas situadas fora de mim. E, por último, as Sereias, os Hipogrifos, e seres semelhantes, são inventados por mim próprio. Mas também posso crer que as ideias são todas adventícias, ou todas inatas, ou todas factícias, uma vez que ainda não descobri claramente a sua origem verdadeira.

René Descartes; III Meditação in Meditações da Filosofia Primeira.


I I– René Descartes

«13. Em que sentido se pode dizer que, ignorando Deus, não se pode ter conhecimento certo de nada.

Quando o pensamento, que se conheceu a si mesmo deste modo, não obstante continuar a duvidar das outras coisas, usa de circunspecção para estender mais além o seu conhecimento, encontra, logo de início, em si, as ideias de várias coisas.
Enquanto as contempla simplesmente, sem assegurar que haja algo exterior a si que seja idêntico a essas ideias, mas também sem o negar, não corre o perigo de se enganar.
O pensamento encontra também algumas noções comuns a partir das quais compõe demonstrações que o convencem de forma tão absoluta, que não consegue duvidar da sua veracidade enquanto se aplica nessa actividade. Por exemplo, ele contém em si as ideias de números e de figuras; possui também, entre as suas, noções comuns «que, se juntarmos partes iguais a outras partes iguais, os todos serão iguais» e muitas outras tão evidentes como esta, pelas quais é fácil de demonstrar que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois rectos, etc.
Ora, enquanto o pensamento se apercebe destas noções e da ordem de onde ele deduziu esta conclusão ou outras semelhantes, está seguro da veracidade delas. Contudo, como não poderá pensar nisso sempre com tanta atenção, quando acontece lembrar-se de alguma conclusão sem ter em conta a ordem a partir da qual ela pode ser demonstrada, se, entretanto, pensar que o Autor do seu ser pode tê-lo criado com uma natureza tal que ele se equivoca em tudo o que lhe parece evidente, terá, então, um motivo justo para desconfiar da veracidade de tudo aquilo que não percebe de forma distinta e para achar que não poderá ter qualquer ciência até conhecer aquele que o criou.»
René Descartes; Princípios da Filosofia