2006-11-29

CULTURA

Monoculturalismo:

Uma cultura única; homogeneidade cultural; existe assimilação cultural; língua única, valores únicos, vistos como universais, absolutos, essenciais.

Existe, portanto, a imposição de uma cultura oficial; Existe exclusão social e cultural para quem não siga a cultura dominante ou não tenha sido assimilado.


Multiculturalismo:

Reconhecimento e valorização de todas as diferenças culturais.
Existe uma aceitação das particularidades, mas perde-se a referência de valores comuns.
Por vezes assiste-se a uma 'guetização', isto é, as pessoas podem não encontrar pontos de encontro e diálogo, vivendo em universos culturais paralelos e relativamente fechados.


Interculturalismo:

Procura de um verdadeiro diálogo intercultural. Existe a procura de valores comuns que suportem a convivência e a partilha da existência quotidiana.
É promovida a educação e a expressão intercultural.







" Cada cultura é um conjunto de conquistas, usos, saberes e formas de vida que determinada colectividade humana partilha, pelo qual se distingue das outras: vem reforçar o sentimento de pertença de cada um dos membros ao grupo comum (...). Quanto mais atrasada é uma cultura (isto é, quanto mais tosca, elementar, excludente, incapaz de assimilar o novo e o plural), mais tende a identificar os seus membros com a autêntica humanidade e a exaltar os seus próprios ritos e mitos como a verdadeira forma humana de viver.
(...)
Consoante a cultura se vai sofisticando mais, tornando-se mais reflexiva e menos impulsiva, concebe-se a si própria como uma forma de vida entre outras, talvez preferível, mas de certo não seguramente mais 'humana' do que outras modalidades vizinhas; por isso abre-se a elas, realiza intercâmbios, deixa-se contagiar por vontade própria, ou de má vontade, acrescenta às suas senhas de identidade, com signo positivo, os traços do 'estranho' que antes eram vistos negativamente.

O processo de permeabilidade, porém, nunca é completo: nenhuma cultura se relativiza totalmente a si mesma, todas se preferem diante das outras (...). "


F. Savater


VALORAR é escolher

" O valor é, se quisermos, a ruptura com a indiferença pela qual colocamos todas as coisas no mesmo plano e consideramos todas as acções como equivalentes. Talvez esta indiferença, enquanto tal, seja impossível. Mas o valor surge quando essa indiferença desaparece, quando o mundo deixa de ser para nós um espectáculo e a acção deixa de ser um acontecimento puro, quando nos envolvemos nesse espectáculo e participamos desse acontecimento. Desse modo introduzir valor no mundo é introduzir-lhe diferenças que estão sempre em relação com as preferências. Todo o valor é, pois, inseparável de uma actividade de selecção que, mesmo que só tenha sentido para nós, opera distinções entre as diversas formas da realidade, de acordo com o que estimamos e com o que recebe a nossa preferência. Só há valor onde a indiferença desaparece e a parcialidade começa a introduzir-se no real. Dar valor é tomar partido perante a realidade. "

Llavelle

2006-11-27

O Conceito de VALOR




" O conceito de valor não pode rigorosamente definir-se. Pertence ao número daqueles conceitos supremos, como os de 'ser', 'existência', etc., que não admitem definição . Tudo o que pode fazer-se a respeito deles é simplesmente tentar uma clarificação ou mostração do seu conteúdo. "


J. Hessen

OS VALORES ...

" Os valores dirigem-nos um apelo; como que querem ser amados, tornando-se mesmo, nalguns casos, imperativos, constituindo um verdadeiro cosmos axiológico dentro do qual reina uma como que perfeita e espontânea hierarquia. Os Valores encontram-se também escalonados, havendo uns mais baixos e outros mais altos em dignidade, consoante o grau com que reclamam o nosso respeito e amor. "

L.C. Moncada

2006-11-22

A LIBERDADE como SUPERAÇÃO das CONDICIONANTES

" (...) A liberdade do homem é a liberdade duma pessoa, desta pessoa, assim constituída e situada em si própria, no mundo e perante valores.
Isto implica que ela é, na maioria dos casos, estreitamente condicionada e limitada pela nossa situação concreta. Ser livre é primeiramente aceitar esta condição, para dela partir. Nem tudo é possível, nem tudo é possível em todos os momentos. Estes limites, quando não são demasiados estreitos, são uma força. A liberdade, tal como o corpo, só progride perante obstáculos, opções e sacrifícios. "
E. Mounier

LIBERDADE e RESPONSABILIDADE

" Só o ser livre é responsável. Só quem decide autonomamente, preferindo uma de entre duas ou mais possibilidades, está em condições de responder por aquilo que faz. A responsabilidade, a autonomia e a liberdade são o mesmo.

Mas o que em teoria parece fácil fácil de dizer, na prática é muito mais confuso. dizemos que somos livres, autónomos, responsáveis. Mas será que compreendemos o significado de cada um destes atributos do sujeito ético?

A responsabilidade tem sido ligada ao sentimento de culpa. Mantém-se ainda uma tal vinculação? pode falar-se também de responsabilidade quando se encontra ausente a relação de causalidade entre uma acção e o seu agente e não se pode atribuir a alguém?

A responsabilidade predica-se apenas das acções passadas ou também das futuras? "


V. Camps


Liberdade de agir

Como vimos, a liberdade não é a ausência total de limites ou condicionantes... O facto do Homem sentir condicionantes de carácter biológico ou até cultural, não significa que ele não seja livre.

A liberdade é a possibilidade do homem fazer escolhas. Liberdade para poder agir, de modo consciente, voluntária e intencionalmente.


A natureza não é livre nos seus elementos... eles são determinados por condições que lhes são intrínsecas, isto é, que lhes são próprias.


Pelo contrário, o Homem, pode - e como ele tenta! - ultrapassar muitas das condicionantes com que nasce, que lhe aparecem, que lhes são impostas .




" Penso que a liberdade se define correctamente do seguinte modo: 'liberdade é a ausência de qualquer impedimento para a acção que não esteja contido na natureza e na qualidade intrínseca do agente'. Por exemplo, diz-se que a água corre livremente ou que tem liberdade para correr no leito do rio porque não existe nenhum impedimento nesse sentido, mas corre pelos lados, porque as margens estabelecem um impedimento. E mesmo que a água não possa correr, apesar de tudo, ninguém dirá que lhe falta liberdade de correr, mas sim a possibilidade ou o poder, porque o impedimento está na natureza da água que lhe é intrínseco. "




T. Hobbes

2006-11-15

A ATRIBUIÇÃO da RESPONSABILIDADE

"A identificação do autor com uma acção não é um acto negligenciável; em certas circunstâncias constitui mesmo uma operação muito complicada.


. No caso das acções simples ou 'básicas', esta atribuição não constitui problema algum. Eu não pergunto quem sorriu, quem moveu o dedo. A acção é atribuída imediatamente (...).
As acções de base são expressões gestuais que permitem uma leitura imediata da autor na sua assinatura.


. As acções 'complexas' é que constituem um problema. Entendemos por acções complexas as que produzem efeitos sobre as coisas (deslocação, manipulação, transformação, etc.).É o sentido comum de agir; actua-se sobre algo: diz-se então que agir é causar uma mudança. Na medida em que uma acção é idêntica às suas consequências, diz-se que o agente é o autor não só dos seus gestos imediatos, mas dos seus efeitos mais longínquos. A atribuição constitui então um problema porque o autor não está nas consequências longínquas como está no seu gesto imediato.

De algum modo a acção separa-se do seu autor como a escrita separa o discurso da palavra e dá-lhe um destino distinto do seu autor; eis por que a pergunta 'quem ?' abre um problema real. As consequências longínquas serão ainda obra de alguém? É mediante um acto específico que se religa ao autor uma acção que dele se separou. O autor é o que teve a iniciativa, isto é, o que começou.


. Uma complicação suplementar surge em virtude de a acção constituir não só uma cadeia de acções individuais, mas também um entrelaçamento de acções colectivas. É preciso então distinguir, na ordem de enredamento causal, o que se pode atribuir mais a pessoas do que a coisas e distinguir as acções dos acontecimentos.


. Por fim uma última complicação, a atribuição de uma acção resulta mais difícil pelo facto de que vários autores concorreram para a mesma acção global. Como atribuir a cada um a sua parte ?
Esta pergunta torna-se importante quando é preciso repartir erros e designar distributivamente os autores; em tal caso atribuir é distribuir. "


Paul RICOEUR



2006-11-08

ACÇÃO e VONTADE

" Entre as coisas que realizamos, umas fazemo-las voluntariamente, porque queremos fazê-las; outras fazemo-las sem querer.
Fazemos voluntária ou intencionalmente as coisas que fazemos querendo fazê-las, com conhecimento e de propósito.
Nestes casos dizemos que temos a intenção ou o propósito de fazer o que fazemos.
No entanto, também há coisas que fazemos sem querer fazê-las, como ressonar, espirrar, tiritar de frio, ou transpirar de calor, actos todos eles que não está nas nossas mãos controlar. Cantamos porque queremos, ressonamos mesmo que não queiramos.
Às vezes também fazemos algo involuntariamente, como consequência não prevista de uma acção não intencional. Matamos voluntariamente um mosquito que penetrou no nosso quarto de dormir, mas matamos involuntariamente o insecto que se cruza no nosso caminho e que pisamos sem o ter visto enquanto andávamos. Abrimos a lata de espinafres e involuntarimente cortamos o dedo.
Queremos servir café nas chávenas, mas por um descuido (ou por um defeito da cafeteira) entornamos o café e manchamos a toalha, sem o pretendermos (inclusive lamentamo-lo).
Normalmente só nos consideram responsáveis pelas coisas que fazemos voluntariamente, não pelas coisas que nos acontecem ou que fazemos sem nos darmos conta ou sem querer.
(Uma excepção é a negligência culpável.)
A intencionalidade é um pré-requisito do mérito ou da culpa.
J. MOSTERÍN