Religião - respostas a quê...
Já vimos que a religião brota da busca do Sentido da Existência, mas também da estupefacção diante do Sofrimento e da intensa experiência da Finitude.
Como pode responder a Religião a estas problemáticas? De muitas formas! As respostas são tantas e tão variadas quanto as organizações e as tradições religiosas... Acresce a isto que o momento histórico determina, em muito, quer o sentido das buscas quer a direcção das respostas.
" A religião é definida por Lucrécio como o temor pelo poder dos deuses. Na maior parte das religiões, a imagem de Deus é associada aos fenómenos catastróficos, incontroláveis e incompreensíveis. É somente mais tarde que se associa Deus à ideia de amor e de perdão.
Em certas épocas da sua história, o povo judeu e a igreja cristã também associaram Deus à ideia de um destino cruel e de uma punição.
Pelo contrário, hoje está na moda colocar Deus ao lado da felicidade e do optimismo. Deus 'positivo'. O sucesso da nebulosa 'New Age' parece-me a manifestação desta tendência.
Presentemente, para muitos, a religião é um 'máximo' para atingir a felicidade e a saúde. O mundo é maravilhoso e os seus 'males' não são mais do que perturbações da harmonia universal. O homem não é mau nem culpado, e os seus 'vícios' não passam de doenças que podem ser curadas. Deus seria o equilíbrio, a sabedoria, a terapia e a aceitação de si próprio e dos outros.
(...)
Toda a gente sabe que Malraux disse que o século XXI será espiritual e religioso. E muitos chegaram a pensar que esta religião do século XXI não seria o catolicismo, julgado obsoleto, mas o 'New Age' da era de Aquário.
(...) Quando Malraux anunciou o regresso religioso para o século seguinte, ele fê-lo num momento em que ainda era possível pensar que o século XXI seria pacífico. Começava-se a acreditar que o trágico e o absurdo tais como o tinham pregado Kafka, Nietzsche e até Camus estavam ultrapassados. O século XXI devia ser feliz. E a espiritualidade e a mítica deviam ser uma espécie de suplemento da alma que estaria em harmonia com uma sociedade sem fadiga, rica e, para dizer a verdade, à beira do aborrecimento.
Mas, agora, quase já não há dúvidas, o próximo século não será feliz. Desde que Malraux pronunciou esta pequena frase famosa, as coisas mudaram muito. O século XXI será violento e trágico. Os grandes ideais da democracia, dos direitos do homem, da partilha das riquezas e da saúde através do yoga estão a caminho de se desmoronar uns após outros.
(...)
Assim, a espiritualidade futura não fará a economia nem dos males nem dos vícios. A religião tem por fundamento incontrolável a falta, a infelicidade e o sofrimento.
E por esta razão, julgamos útil pôr novamente em debate a conexão entre religião, os males e os vícios."
Alain Houziaux
A Religião, os Males, os Vícios